Às vezes surpreendo-me de não me surpreender. Não é bom .... ou por outro lado até pode ser.
Por vezes, muito frequentemente até, a normalidade do correr dos dias, suave mas enérgica, como as águas que escorrem pelo leito de um rio, é subitamente chocalhada por acontecimentos inesperados. Então, sem pedir licença, as águas assumem uma rapidez e um desnorte, adequados à prática de rafting.
Em tempos idos, eu espantava-me muito. Ficava estarrecida. Não tanto com o acontecimento em si, mas com a conduta dos seus intervenientes. Espantava-me que a doçura de outrora se tivesse deixado dominar pela agressividade. E que a humildade se amedrontasse perante a altivez, a seriedade perante o poder, o valor perante o preço.
Nos dias de hoje, já não fico estarrecida, nem espantada, ... Fico, talvez, ligeiramente decepcionada. À primeira vista, pareceu-me uma reacção de quem perdeu a inocência e a fé nas pessoas. Onde estava o Eu rebelde e inconformado de outros tempos?! Esta agora ! Pareceu-me que me tinha acomodado, mas não tinha.
O que me sucedeu foi que a experiência, a idade e a convivência com as pessoas certas me amadureceu. A rebeldia continua cá, só que se manifesta de forma mais inteligente e eficaz ( acho eu). Acredito que aprendi a ser mais assertiva e também mais compassiva.
Há mais de 20 anos fiz uma formação intitulada "Qualidade no atendimento", onde, entre outras coisas, aprendi a gerir conflitos em contexto laboral. Nunca me esqueci da famosa frase citada pelo formador: " Acção gera reação". Nada mais é que a terceira Lei de Newton aplicada às relações humanas. Foi o início de uma longa caminhada para o amaciar das minhas arestas. Quero que me falem com calma? Então falo com calma. Quero que alguém se acalme? Começo por me acalmar. ( Confesso que não é nada fácil e, de vez em quando, lá sai um "berro" !)
Não se iludam os mais incaustos, assertividade não é passividade. O meu inconformismo veio, desde sempre, para ficar e não me calo (apenas falo mais baixinho) !
Olá! Agora que os testes dos estudantes cá de casa estão em contagem decrescente, miracolosamente vou conquistando algum tempo livre .... Como forma de recuperar algum espírito criativo, consumido pela azáfama da rotina diária, comprei uma pistola de cola quente e soltei as asas.
Resolvi fazer uma coroa de Natal para pendurar na porta de casa. Achei que não era suficientemente criativa. Afinal, existe no comércio uma panóplia de coroas, de todos os materiais, formatos e preços desejados.
Abri a caixa dos enfeites de Natal, coloquei tudo a bimby, 10 min, velocidade colher inversa e saiu isto. Gira, não acham?
Se quiserem fazer e tiverem alguma dificuldade, terei todo o gosto em dar umas dicas ❤
No outro dia perguntaram-me por que razão não tenho publicado neste nosso blog.
Não respondi ....não sabia bem porquê. Mas fiquei a pensar naquela pergunta. Gosto tanto de escrever. Tenho a mania de opinar sobre tudo, até demais por vezes. Sou curiosa, tento estar actualizada.Temas não faltam, Então que maleita tão grave seria esta ?
Mergulhei no meu íntimo e esquartejei a minha alma até que ... EUREKA ! Diagnostiquei a minha maleita impeditiva da escrita: cambalhotas cerebrais !
Isso existe ? Sei lá, em mim existe. É mais ou menos assim: o meu cérebro parece uma tômbola, de vidro, daquelas onde se metem imensos papeis. Depois, roda-se e roda-se, abre-se a pequena porta e retira-se um dos papeis.
O que eu fiz foi colocar demasiados papeis. Como sou curiosa, por vezes patologicamente curiosa, dedico-me simultaneamente a vários temas : saúde, escola, exames e manuais, leis, sociedade, pintura, astronomia, crochet, cozinha, "cenas de adolescentes", maquilhagem e outras coisas giras, espiritualidade e desenvolvimento pessoal, e mais, mais, mais ..... Tentem lá manter um cerebrozinho funcional com tanta assimetria ? Eu cá não sou capaz ... Foi então que percebi que não escrevia nada porque tinha tanta coisa para dizer e não sabia por onde começar. Tantos assuntos tão interessantes e tinha de escolher só um ? Que injustiça ... que tédio.
Então, como eu não me decidia a abrir a pequena porta e a retirar o papel que me daria o tema eleito, o meu cérebro continuava a rodar, qual tômbola descontrolada, girando em torno do seu eixo. E como se para? Ainda estou para descobrir o tratamento para as cambalhotas cerebrais. Ora aí está. Que bela ideia, mais um tema para a tômbola: cambalhotas cerebrais - diagnóstico e tratamento.
A propósito das últimas notícias intituladas de "comprimido da inteligência ", muito se tem falado, mas ainda estão por dizer muitas coisas de importância relevante.
Vamos a ser racionais, esses medicamentos estão indicados para crianças e jovens com diagnóstico confirmado de hiperactividade e/ou défice de atenção. Constituem substâncias químicas com acção no sistema nervoso central e que visam controlar os sintomas daquela patologia. Tal como todos os medicamentos, estas substâncias têm uma janela terapêutica que tem de ser respeitada, tem efeitos secundários e contra-indicações. Assim, como todos os medicamentos, deve ser analisada a balança risco/benefício e só deverá ser prescrito se os benefícios ultrapassarem claramente os riscos. Isto aplica-se, e repito, quando há diagnóstico confirmado.
Ora, quando não há hiperactividade e/ou défice de atenção, nada disto se aplica ou se pode aplicar. Se não há doença para quê a terapêutica? Estas substânvias não se destinam a tratar crianças e jovens normais, daqueles que têm a cabeça na lua (felizmente), bichos carpinteiros no rabo e molas na sola dos pés. Não se destinam a mante-los sossegaditos e obedientes em casa e pasmados nas aulas.
Porém, para júbilo de muitos, estas substâncias quando administradas a pessoas saudáveis, além de as tornar ainda mais sossegadinhas, menos curiosas e perguntadeiras, consegue a proeza de manter os alunos completamente (e artificialmente) concentrados nas aulas, nos testes e nos tempos de estudo. Daqui resulta que estes alunos obtêm melhores resultados escolares com muito menos trabalho, e com menos cansaço.
Para que isto suceda nas proporções gigantescas em que se verifica em Portugal, abarcando crianças, jovens e jovens adultos, tem de haver a colaboração de vários intervenientes : médicos que prescrevem, pais que administram ou permitem a administração e comunidade escolar que sabe e se cala. Cala-se porque estes se tornam alunos que não questionam, que são máquinas assimiladoras de dogmas, e ajudam a escola a subir no ranking dos exames. Aos pais agrada o sucesso escolar dos filhos, o que os poupa a mais uma preocupação, além das que a vida lhes traz. Quanto aos alunos, não sei se lhes agrada ou não, acredito que sim, a avaliar a ligeireza com que aconselham aos amigos as maravilhas deste milagre. Vêm alguns clínicos dizer que são medicamentos seguros e muito estudados! Sim, podem até estar devidamente estudados em doentes e ser seguros em doentes. Mas, e em cobaias saudáveis ?! Já leram os efeitos adversos possíveis? Depressão, irritabilidade, insónia, oscilações de humor, esquizofrenia, tendências suicidas ou de auto-mutilação,comportamentos obsessivos, tiques, ..... chega?
E a parte ética? Estas substâncias são para o estudo o que o dopping é para o desporto. Estes alunos fazem batota. A pressão das notas de excelência e dos quadros de honra ensinam-lhes a não olhar a meios para atingir fins. E boicotam-se a si próprios. Pois se recorrem a estas substâncias é porque acreditam que não têm competências próprias suficientes para alcançar os seus objectivos, não acreditam em si próprios. Ou então são desprovidos de valores morais como o respeito e a lealdade.
E os pais ? Amam os filhos incondicionalmente? Aceitam-nos com as competências e dificuldades que eles têm como todos temos? Talvez acreditem que os seus filhos não têm capacidade de ter sucesso fazendo uso só do trabalho e da inteligência. Ou querem que o sucesso dos filhos, a qualquer custo, lhes sirva de lenitivo aos seus fracassos pessoais.
Estamos a impedir o progresso da ciência e o evoluir do conhecimento. Calamos os curiosos, os pensadores, o activistas, e criamos bandos de zombies empregáveis não pensantes. Não mais teremos um Einstein, nem um Da Vinci, nem um Gandhi. .... O que andamos a fazer ?
- Olha mãe, a Inês vai fazer festa de aniversário. Posso ir, não posso ?
- Sim, podes. Temos de lhe levar uma prendinha.
- Mas não pode ser uma prenda qualquer.
-Ok.
- Tem de ser especial.
- Ok.
- Disse-lhe que podiamos fazer o bolo de aniversário. Daqueles giros com massas por cima. Assim era uma coisa especial. Feita por nós.
- Ok. Parece-me uma boa ideia. Muito fofa.
-Tem de ter verde água que é a cor preferida dela.
- Está bem.
-Mas tens de fazer uma boneca com um fato de ginástica acrobática.
- O QUÊ ? Não consigo !
- Consegues pois!
E sim, com a ajuda da minha pequena pasteleira saiu isto. Ficámos orgulhosas, partilhamos tarefas, fortalecemos laços, ....porque o amor também se cozinha.
Tenho andado ausente destas lides on line. Não será bem ausente a palavra adequada. Talvez oculta. Não tenho escrito, nem pintado, nem refilado, o que pode ser preocupante, especialmente a parte do não refilar.
Porém, tenho dado mais atenção a uma actividade que se mostra de grande utilidade para quem gosta de aprender com a vida, com os outros. A arte de observar em silêncio. Observar é fácil, o silêncio é que é mais complicado.
Complicado mas eficiente. Se estivermos sozinhos, o silêncio permite observar com mais pormenor o que nos rodeia, talvez até encontrar beleza nos locais mais improváveis. E ainda deixa que ouçamos com clareza o papaguear do macaco falante que mora dentro da cabeça de cada um. É importante ouvir o macaco com alguma regularidade. Caso contrário, se não dermos importância ao seu papaguear conselheiro é provável que, a seu tempo, escorreguemos numa das cascas de banana que a vida nos coloca no caminho.
Por outro lado, se estivermos acompanhados e a conversa for interessante, o uso do silêncio mostra respeito e consideração pelo interlocutor, reúnem-se saberes, formulam-se opiniões, estreitam-se laços. Todavia, se a conversa for uma enormíssima verborreia, o silêncio continua a ser o nosso aliado, pois muda-se troca-se de botão e ouve-se o macaco, novamente.
Estou a ficar uma adepta do silencio. Mais a mais, com a quantidade de barbaridades a que se tem assistido recentemente, se começar a falar vou fazê-lo até que a voz me doa ! E vou meter-me em problemas ... garantidos.
Como alguém sabiamente disse "o exercício do silêncio é tão importante quanto a pratica da palavra ".
Todos os dias, a comunicação social nos enfia pelos olhos dentro o horror da guerra, da violência gratuita, da miséria, da intolerância. E sim, elas existem.
Mas também existem maravilhosos exemplos de luta pela Paz, de tolerância, de compaixão.
E esses exemplos não nos são introduzidos pelos olhos dentro. Porquê?
Por não terem audiências ?
Andarão os jornalistas em modo automático para encontrar somente o que de terrível se passa ?
Outros interesses serão mais poderosos, talvez.
Desviam-nos a atenção .... cegam-nos o coração, envolto nas correias do medo.
Eu acredito que quanto maior for a atenção dada aos assuntos, mais força eles adquirem.
Porque não alterar o enfoque das nossas preocupações ? Dos nossos desejos?
E se em vez de sermos contra a guerra formos a favor da Paz? Fará diferença? Creio que sim...
E se em vez de sermos contra a intolerância, formos a favor da compaixão ? Resultará?
Não sei .... mas o método actual de sermos contra isto, ou contra aquilo, não está a resultar.
As nossas preocupações e medos agigantam-se.
Como disse Madre Teresa de Calcutá:
" Se me convidarem para uma marcha contra a guerra não irei. Mas irei se for uma marcha a favor da Paz."
Proponho que, no novo ano que se aproxima, tentemos inverter os nossos pensamentos e acções.
Proponho darmos força à Paz, à tolerância e à compaixão.
E para nos inspirarmos, partilho o vídeo da ONG Women Wage Peace.
Mulheres de todas as religiões que se uniram em prol de um objectivo comum - a Paz.
Delas não se fala, apesar de organizarem caminhadas onde comparecem aos milhares ....
Não se escrevem artigos, nem se fazem documentários.
Os seus vídeos não se tornam virais.
A todos desejo um ano novo. Novo em vários sentidos ...
Eu costumo dizer que o amor também se cozinha. E que cozinha também é amor.
Não sei se tenho razão ....provavelmente não.
Como neste Natal não deixei a azáfama da época para a véspera, tive oportunidade de me sentar calmamente,
apenas a observar a azáfama dos outros.
E pareceu-me que os afectos se demonstram pelo tamanho do preço da prenda.
Senti-me estranha, deslocada, ....e preocupada.
Será que os meus amigos gostam das caixas de madeira que pintei com as minhas próprias mãos e enchi de chocolates? E as bolsinhas de crochet feitas nos minutos que se roubam ao tempo de sono ?
Acho que sim, que gostam. Não da prenda em si, mas de eu ter dedicado aquele tempo só para eles.
De naquele momento em que segurava o pincel, ou as agulhas e a lã, os meus pensamentos estarem só com
cada um deles.
Então corri para a cozinha, levei os meus pintainhos e fui cozinhar amor : bolachas de canela, gengibre e boas energias. Decoradas com pasta de açúcar e carinho. Embrulhadas em abraços.
Algumas já foram entregues a pessoas especiais, outras ainda estão à espera desse encontro.
Peço que me desculpem a falta de cuidado na escrita e na pontuação. Na fraca selecção de palavras bonitas e "caras". As fotografias desfocadas..... Mas tenho coisas muito importantes para fazer :
tenho de ir abraçar a minha família e os meus amigos.
Um Natal mágico para todos !
E não se esqueçam de cozinhar os vossos amores .....
Nos dias que correm, depressa demais, as pessoas cruzam-se, olham-se e não se vêem. Ouvem-se mas não se escutam. O tempo parece que nos foge, como grãos de areia entre os dedos, como nuvem que se desvanece pela força do vento. É o que dizem .... aqueles que não vêem e não escutam. Não posso concordar! Recuso-me a dar à negatividade a importância que lhe serve de combustível. Sim, há muita violência, intolerância, doenças, consumismo, inversão de valores ... há. E é isso que, todos os dias, nos entra pelos olhos dentro.
Mas existe opção. Porque não procurar na rua sinais de bondade e solidariedade?
Em tempo algum da nossa história existiu época em que se sentisse um tão intenso despertar do ser humano. Tantas são as pessoas que se unem e organizam para fazer o bem a outros. Não conheço outro período em que as pessoas se manifestassem com tanta convicção contra a injustiça, a discriminação e a desigualdade. Muitos são os seres humanos que fazem da solidariedade o seu propósito de vida. Então porquê o enfoque no mal? É que para fazer o bem, não é necessário integrar uma organização internacional de ajuda humanitária, ou ser voluntário, ou sair à rua em protesto (a quem estou profundamente grata e reitero a minha admiração). Pode-se melhorar o dia de alguém com pequenos gestos, simples e gratuitos. É o que fazem os heróis anónimos, dos quais nunca ouvimos falar. Como os reconhecemos na rua? Fácil, são aqueles/aquelas cujo coração é uma lâmpada. Iluminam tudo por onde passam, longe das luzes da ribalta. Não são nem nunca serão famosos. Serão "apenas" felizes .....
Vale a pena ver o pequeno vídeo que se segue, se querem ver o que é ter coração de lâmpada.....